Stella Manhattan – Silviano
Santiago
Publicado originalmente em 1985,
Stella Manhattan conta a história de Eduardo, um jovem
carioca que, no final dos anos 60, embarca para Nova York para
trabalhar no Consulado Brasileiro. É longe das habituais desavenças
familiares que Eduardo encontra oportunidade para dar vasão à sua
sexualidade conflituosa.
A obra gira em torno de dois temas
complexos: política e erotismo. Logo de início o jovem aproxima-se
do adido militar, Valdevinos Vianna, que aos poucos passa a confiar
em Eduardo, expondo seus velados hábitos de vestir roupas de couro
negro e sair pela noite novaiorquina em busca de experiências
sadomasoquistas. Paralelamente, Eduardo acaba por se envolver com um
grupo da esquerda brasileira clandestina. Com essa trama, Silviano
Santiago mostra com maestria tanto os processos libertários da
recente história brasileira, como também a americanização que o
país passava, então.
Bom Crioulo – Adolfo Caminha
É considerado por alguns críticos o
primeiro romance homossexual, não só da história da literatura
brasileira, mas de toda a literatura ocidental. A narrativa descreve
o envolvimento entre Amaro, um escravo fugido que, devido a sua boa
forma física, consegue ser aceito na marinha e Aleixo, um jovem
grumete.
Ao detalhar a vida amorosa do casal (e
os conflitos que afloram desta relação), oscilante entre o trabalho
no mar e o quarto alugado que habitam no subúrbio do Rio de Janeiro,
Adolfo Caminha aborda temas ousados para a época (final do século
XIX), como a homossexualidade em ambiente militar e sexo
inter-racial.
Todos Nós Adorávamos Caubóis –
Carol Bensimon
Ao estilo de On The Road, de
Jack Kerouac, Carol Bensimon constrói em Todos Nós Adorávamos
Caubóis uma narrativa em forma de road novel (literatura
de estrada).
A história gira em torno do
reencontro de duas amigas que há algum tempo deixaram o Brasil. Cora
estuda moda em Paris, enquanto Julia vive em Montreal.
Após alguns anos vivendo no exterior,
as duas voltam à sua terra natal e resolvem pôr em prática um
projeto antigo: fazerem juntas uma viagem de carro pelo interior do
Rio Grande do Sul. As personagens vagam forasteiras na própria terra
onde nasceram, em uma espécie de busca por autoconhecimento. Deste
contexto evidencia-se um envolvimento cuja definição atravessa a
tênue fronteira entre amizade e afeição amorosa.
Uma Casa no Fim do Mundo –
Michael Cunningham
Em Uma Casa no Fim do Mundo,
Michael Cunningham põe à prova os conceitos tradicionais de lar,
família e comunidade para sondar os mistérios mais profundos de
nossas fidelidades e vicissitudes. Este romance conta a história de
Jonathan Glover e Bobby Morrow, amigos desde os treze anos; Jonathan,
solitário, introspectivo e pouco seguro de si; Bobby, tranquilo,
enigmático e nada comunicativo. Ambos procedem de lares com
problemas e juntos encontram a solidez e a solidariedade da qual
carecem.
Com o passar do tempo, Jonathan
muda-se para Nova York para estudar jornalismo. Bobby segue vivendo
em Cleveland, matricula-se em um curso de gastronomia e, após
algumas tragédias, passa a morar com os pais de Jonathan.
Os dois rapazes se reencontram quando,
anos mais tarde, Bobby é “jogado para fora do ninho” e vai em
busca de Jonathan em Nova York. É quando conhece Claire, com quem o
amigo divide apartamento. Logo uma intensa cumplicidade faz com que o
trio estabeleça uma atípica relação e resolva viver o sonho de
dias melhores na emblemática Woodstock.
Morte em Veneza – Thomas Mann
Um
escritor de meia-idade, Gustav von Aschenbach, resolve viajar à
Veneza para espairecer após certo insucesso de suas últimas
publicações. Lá acaba desenvolvendo um amor platônico por um
jovem polaco de extrema beleza (Tadzio) que encontra em seu hotel, no
Lido. Este é o enredo de Morte em Veneza,
livro de Thomas Mann, publicado originalmente em 1912.
Apesar de falar
sobre uma paixão homoafetiva, isso ocorre de modo unilateral, tendo
em vista que o contato entre os personagens é apenas idealizado,
eles sequer chegam a exercer algum diálogo.
Independente
das circunstâncias, Aschenbach resolve permanecer em Veneza mais do
que o planejado, ignorando até mesmo o tempo quente e úmido que
prejudica sua saúde e o alarde de uma epidemia de cólera que assola
a cidade. Tudo para estar próximo de Tadzio.
Como de costume,
Thomas Mann, incorpora elementos filosóficos à sua obra. O jovem
Tadzio representa um ideal de beleza. O que Aschenbach vê em Tadzio
é a imagem narcísica do sonho de beleza que ele mesmo anseia
alcançar. Tal estética, em forma de erotismo, remete à perfeição
que Aschenbach não encontra em si, nem em sua arte.
Por fim, como o
próprio título do livro anuncia, o personagem principal acaba
morrendo sem ter consumado seu amor platônico.
O Beijo da Mulher Aranha – Manuel
Puig
O Beijo da Mulher Aranha, livro
do argentino Manuel Puig, conta a história de dois homens,
companheiros de cela, durante a ditadura militar. Um deles, Valentín,
preso político de esquerda, heterossexual e, o outro, Molina, um
homossexual acusado de corrupção de menores. Embora sejam pessoas
muito diferentes, os dois são vítimas da violência de um mesmo
regime e, na medida em que vão se conhecendo, passa a surgir uma
relação de respeito mútuo. Ambos despem-se de preconceitos e
revelam um ao outro suas faces mais humanas. Uma história sobre
política e cumplicidade.
Simon vs. a Agenda Homo Sapiens –
Becky Albertalli
Simon é um adolescente gay, ainda em
conflito com sua sexualidade, que, ao trocar e-mails cheios de afeto
com o enigmático Blue, percebe-se a cada dia mais apaixonado. É por
causa disso que passa a ser chantageado por Martin, que descobre suas
conversas virtuais e promete compartilhar a informação com toda a
escola, forçando-o a “sair do armário”.
Este, que é o livro de estreia da
autora Becky Albertalli, trata de forma leve e descontraída muitos
dos dilemas comuns ao público jovem. Uma história sobre a difícil
tarefa de amadurecer frente a um mundo que constantemente põe à
prova qualquer expressão de subjetividade.
As Fantasias Eletivas – Carlos
Henrique Schroeder
Renê, recepcionista noturno de um
hotel em Balneário Camboriú, desenvolve uma relação de amizade
com Copi, uma transsexual, garota de programa, afeita às artes de
escrever e fotografar. Esse é o ponto de partida para a trama de As
Fantasias Eletivas, do escritor catarinense Carlos Henrique
Schroeder.
Mergulhados em solidão e em suas
tragédias cotidianas, os dois personagens tateiam um no outro
evidências de suas experiências machucadas. Muito mais que as
ações, de fato, o que estrutura o enredo desta obra é o passado
expresso por via de inúmeras fantasias eletivas, vulgo lembranças.
Carol – Patricia Highsmith
O cenário é a cidade de Nova York.
Therese Belivet tem 20 anos, namora um rapaz por quem não está
apaixonada, sonha em ser cenógrafa, mas, para juntar dinheiro e
estudar, precisa manter seu trabalho desgastante como vendedora numa
loja de brinquedos. Tudo em sua vida muda quando uma mulher mais
velha (Carol) resolve comprar uma boneca para a filha.
Considerado o primeiro romance a
abordar uma relação amorosa entre mulheres com um final feliz, este
livro foi publicado pela primeira vez na década de 50, com o título
original “The Price of Salt” e sob o pseudônimo de Claire
Morgan.
A Virgem dos Sicários – Fernando
Vallejo
A Virgem dos Sicários é o
livro mais famoso do escritor colombiano Fernando Vallejo. Mesclando
ficção e traços autobiográficos, Vallejo alterna imagens da
Medellín de sua infância em contraste à Medellín dos anos 90,
tomada pela violência urbana e pelo tráfico de drogas.
O fio condutor da história é o
relacionamento do narrador (Fernando) com Alexis, um dos muitos
assassinos de aluguel (sicários) contratados pelo narcotraficante
Pablo Escobar para exterminar inimigos políticos. Acompanhado por
seu belo sicário, Fernando preenche os dias visitando igrejas e as
noites fazendo amor. Um retrato polêmico de um país em ponto de
ebulição.
Ilusões Pesadas – Sacha Sperling
O precoce (e prodígio) Sacha Sperling
publicou este que é seu livro de estreia quando completava apenas 18
anos e foi aclamado pela crítica francesa.
Ilusões Pesadas dá voz a uma
geração angustiada, com imensa dificuldade em encontrar um sentido
para a vida. O personagem Sacha (homônimo ao autor) expõe suas
experiências juvenis regadas a álcool, drogas e a prática de sexo
em sua forma mais trivial. Envolvido pela recorrente sensação de
tédio, característica de uma juventude inquieta, é ao conhecer o
desajustado Augustin que Sacha entrega-se cegamente à efemeridade
dos prazeres instantâneos.
Com um texto fluído, empático e que
exala poesia, Sacha Sperling ensaia ser um dos expoentes da
literatura francesa contemporânea.
O Terceiro Travesseiro – Nelson
Luiz de Carvalho
Publicado pela primeira vez nos
primórdios dos anos 2000, época em que a oferta de livros com
temática homoafetiva era ainda escassa no Brasil, O Terceiro
Travesseiro logo tornou-se best seller e marcou uma
geração de leitores desejosos de verem seu cotidiano representado
na literatura.
O romance se baseia em uma história
real, onde o personagem Marcus envolve-se com seu melhor amigo,
Renato, e, assim, os dois são compelidos a enfrentarem os dilemas
costumeiros a respeito de assumir aspectos destoantes da sexualidade
perante uma sociedade conservadora. Tudo fica ainda mais complexo
quando surge uma personagem feminina para compor um trio amoroso e
pôr em pauta o tema da bissexualidade.
O livro também aborda questões
polêmicas que são explicitamente descritas em algumas cenas, como,
por exemplo, a prática do fetichismo.
Fabián e o Caos – Pedro Juan
Gutiérrez
Baseado nas memórias de juventude do
escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez, Fábián e o Caos forma
um retrato de Cuba, sob a perspectiva das pressões sofridas por
aqueles que não compartilhavam dos valores instituídos pelo regime
castrista.
São extremamente antagônicos os
perfis da dupla de personagens que conduzem a história. O
protagonista Fabián, homossexual, sensível e introspectivo acaba
por contrastar com seu amigo Pedro Juan, rebelde, libertino e
sedutor. Porém, pouco a pouco, percebe-se que a relação de amizade
entre eles e a dissidência política perante o governo faz com que
se tornem semelhantes.
A trama ocorre em dois períodos:
pré-revolução e pós-revolução cubana. Assim, os personagens,
após certo período de afastamento, reencontram-se quando são
levados a trabalhar em uma fábrica de enlatados, trabalho este
destinado aos párias do regime.
Pedro Juan Gutiérrez, conhecido por
seu Trilogia Suja de Havana, compõe aqui um romance visceral,
repleto de cenas de um sexo sujo e depravado e permeado por latentes
questionamentos existenciais.
O Lugar sem Limites – José
Donoso
Ambientado em um pequeno vilarejo
próximo ao deserto do Atacama, este que é um dos livros mais
emblemáticos do chileno José Donoso, conta a história de Manuela,
uma travesti que junto com sua filha, Japonesita, é dona do único
prostíbulo da localidade.
Quando Manuela chegou a El Olivo, não
imaginava que fosse permanecer por ali. Aconteceu que Don Alejo,
homem de enorme influência, fez uma aposta com Japonesa Grande. Caso
ela conseguisse seduzir Manuela, o prostíbulo, que até então era
dele, passaria a ser dela. Para surpresa de todos, o poder de sedução
de Japonesa Grande funcionou e da relação entre ela e Manuela,
nasceu Japonesita. Tempos depois, Japonesa Grande veio a falecer,
deixando, assim, o prostíbulo como herança para Japonesita e
Manuela.
Escrito na década de 60, este livro
foi pioneiro ao tratar questões de gênero tão claramente, elemento
que, combinado à uma prosa vigorosa e original, acabou coroando José
Donoso como um dos principais escritores do chamado boom
latino-americano, corrente literária que projetou mundialmente nomes
como Julio Cortázar, Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez.
O Auriga – Mary Renault
Escrito em 1953, O Auriga narra
a aproximação de três jovens em meio aos bastidores dos campos de
batalha da Segunda Guerra Mundial. Laurie, em um leito de hospital,
recupera-se de um ferimento que quase o levou à morte. É assim que
conhece Andrew, um pacifista que, por se recusar a ir a guerra, é
preso e levado a executar trabalhos forçados. Ainda há o reencontro
com Ralph, amigo de infância, a quem Laurie nutria grande adoração.
De forma impecável, Mary Renault
compõe o perfil psicológico destes personagens, imersos em medo e
incertezas. Mesmo diante do desequilíbrio emocional causado pela
experiência da guerra, o que se sobressai é o estímulo à
solidariedade, o respeito pela vida e pela capacidade de amar.
Eu sou uma lésbica – Cassandra
Rios
Cassandra Rios foi a primeira
escritora brasileira a atingir a soma de um milhão de exemplares
vendidos. Grande parte de seus livros tornaram-se best sellers
nas décadas de 60 e 70, sendo que das suas quarenta e tantas
publicações, mais de trinta sofreram algum tipo de censura. Isso se
deu pelo fato de sua obra abordar predominantemente a temática do
lesbianismo.
Para compreender a dimensão do
alvoroço que surgia em torno de seus livros, basta imaginar um
cenário pré-contracultural, onde não havia imagens de nudez, a não
ser em livros de medicina e onde a exibição de seios só ocorria em
documentários sobre índios... tudo era tabu. Foi neste sentido, o
sexual, que a literatura de Cassandra Rios educou uma geração.
Porém, a polêmica não se instaurava
apenas em decorrência do sexo por si só. Em alguns casos, como, por
exemplo, em “Eu sou uma lésbica”, Cassandra colocava em
pauta assuntos como fetichismo e até mesmo dava a entender que
determinadas personagens flertassem com a prática de pedofilia.
“Eu sou uma lésbica”
retrata a iniciação sexual da jovem Flávia com uma vizinha, amiga
de sua mãe. A própria protagonista é quem narra a história e
descreve em detalhes a satisfação que sente por estar com uma
mulher mais velha. Há cenas em que Flávia masturba-se com um
sapato. Em outras cenas a menina imita um gato e ludicamente brinca
de lamber a vizinha.
Polêmicas à parte, a obra de
Cassandra Rios ainda não é significativamente estudada em meios
acadêmicos. E os milhares de livros vendidos em décadas passadas,
na atualidade, sumiram das livrarias. Encontrar alguma obra dela, até
mesmo em sebos, é verdadeiro arroubo de sorte.
Homens Elegantes – Samir Machado
de Machado
A sofisticação que Samir Machado de
Machado consegue alcançar em Homens Elegantes é algo ímpar
na literatura brasileira. Uma narrativa com traços pós-modernos,
capaz de mesclar os mais variados gêneros e referências e, ainda
assim, estabelecer uma história coesa e bem amarrada. Batalhas
náuticas, lutas de capa e espada, espionagem, perseguições, piadas
obscenas, alusões à cultura pop, tudo isso ajuda a compor uma
atmosfera caleidoscópica.
A narrativa é conduzida pelas
peripécias do personagem Érico Borges, fiscal de alfândega
brasileiro e veterano de guerra, que é convocado a assumir a missão
de viajar a Londres para investigar o contrabando de livros eróticos
para o Brasil. Neste contexto, o leitor é levado a uma imersão no
cotidiano da sociedade europeia de 1760, sobretudo em seus aspectos
mais libidinosos. Com pesquisa histórica impecável e riqueza de
detalhes, Samir Machado reconstitui a cena LGBT do século XVIII em
pleno núcleo de um dos centros nervosos do Iluminismo.
Uma narrativa gostosa e
despretensiosa, que dispõe-se a entreter, mas que, porém, traz
consigo uma vasta dose de conhecimento.
Meia-noite e vinte – Daniel
Galera
Em meio a uma onda de calor abrasadora
e a uma greve de ônibus que paralisa a cidade, três amigos se
reencontram em Porto Alegre. No final dos anos 1990, eles haviam
incendiado a internet com o Orangotango, um fanzine digital que se
tornou cultuado em todo o Brasil. Agora, quase duas décadas depois,
a morte do quarto integrante do grupo acaba por reaproxima-los.
A história é narrada alternadamente
pela ótica dos três amigos: Antero, Aurora e Emiliano. Assim como
em seus livros anteriores, Daniel Galera mostra-se habilidoso em
compor o universo psicológico dos personagens. Cada qual com seus
dilemas e pulsões.
É na perspectiva de Emiliano que a
temática da homossexualidade é abordada, porém de forma original,
sem o estereótipo do gay efeminado. Em conflito com sua latente
atração por homens, Emiliano descreve seus hábitos de flertar com
caras evidentemente heteros, até que estes reajam com violência.
Deste modo, o desejo sexual é recalcado através do contato físico
da luta corporal. Lutas as quais, inclusive, Emiliano, em grande
maioria das vezes, sai vitorioso, graças a seu porte corpulento e
viril.
Além disso, a obra expõe uma série
de questões extremamente atuais: black blocs, aborto,
feminismo, tecnologia, consumo virtual de conteúdo pornográfico,
aquecimento global, etc.
O retrato de uma época recente, que
se desvanece vertiginosamente diante da liquidez de tempos
pós-modernos.
Minha Metade Silenciosa – Andrew
Smith
Em Minha Metade Silenciosa,
Andrew Smith compõe um romance aos moldes de Extraordinário,
de R. J. Palacio, porém abordando assuntos muito mais duros, como,
por exemplo, violência doméstica, abuso sexual, drogas, etc.
Stark McClellan (apelidado de Palito,
devido a seu porte demasiadamente magro) sofre bullying por ter
nascido com a ausência de uma das orelhas. Como se isso já não
fosse o bastante, Stark vive em um lar hostil onde os pais costumam
castigar violentamente a ele e seu irmão mais velho, Bosten.
Diante das dificuldades cotidianas e
da latente sensação de falta de afeto, Stark encontra na amizade e
no carinho do irmão, que sempre o protege, o apoio e a referência
de amor necessários para seguir em frente.
Em certo momento, o pai descobre um
segredo de Bosten, que é forçado a ir embora de casa. Assim, Stark
precisa ir em busca do irmão. A multiplicidade de situações a que
os dois garotos são submetidos dentro da trama, apresenta-se como
uma espécie de ritual de passagem rumo ao amadurecimento.
Um livro amargo, realista e
extremamente arrebatador.
Nossos Ossos – Marcelino Freire
Primeira narrativa longa do renomado
contista Marcelino Freire, Nossos Ossos conta a história de
Heleno, um dramaturgo que atravessa o Brasil com o corpo de um garoto
de programa, para que este tenha um enterro digno junto à sua
família no interior de Pernambuco. A provável motivação para que
Heleno cumpra com tal ato de beneficência, seja talvez os pontos
convergentes na trajetória dos dois personagens: a vertigem de quem
empreende tentar a vida na grande São Paulo; a sofreguidão
cotidiana da luta por sobrevivência; a solidão e o anonimato de
quem dissolve-se na multidão de uma metrópole.
O romance de Marcelino Freire dispõe
um mosaico de personagens característicos à noite paulistana
(michês, travestis, prostitutas, policiais) e retrata com intenso
realismo o êxodo rural, há décadas, recorrente no país.
Garoto encontra garoto / Dois
garotos se beijando / Will & Will / Todo dia – David Levithan
Se há um autor que não demonstra se importar
com rótulos, este é David Levithan. Autor de obras que
ganham cada vez mais destaque na literatura juvenil, Levithan
especializou-se em abordar de forma leve e simples questões
referentes à homossexualidade.
No Brasil, seus livros mais conhecidos
são Garoto encontra Garoto, Dois garotos se beijando,
Todo dia e Will & Will (escrito em parceria com
John Green).
O Preço de Ser Diferente –
Mônica de Castro
O Preço de Ser Diferente foi
uma das primeiras obras a analisar, por via de narrativa ficcional, a
homossexualidade à luz da doutrina espírita.
Ao narrar a história do jovem Homero,
Mônica de Castro apresenta ao leitor os costumeiros dramas
vivenciados por LGBTs: desavenças familiares, dificuldade de
aceitação, preconceito, mas, não obstante, mostra também a
solidariedade, a esperança e a luta cotidiana daqueles que buscam
uma vida digna e feliz.
Preparem os lenços, pois este é o
tipo de livro que arranca lágrimas até mesmo do leitor mais
empedernido.
Toque de Veludo - Sarah Waters
Ambientado na
Inglaterra vitoriana, Toque de Veludo narra a história da
jovem Nancy Astley, que sai de sua pequena cidade para trabalhar em
Londres como camareira de uma dançarina (Kitty Butler) por quem
tacitamente acaba se apaixonando. Logo as duas se tornam amantes e
formam uma dupla nos palcos. Tempos depois, Nancy é abandonada por
seu grande amor e encontra nas ruas um lugar onde viver suas
fantasias. É aí que muitas reviravoltas passam a acontecer.
A Linha da Beleza – Alan
Hollinghurst
A Linha da Beleza, do inglês
Alan Hollinghurst, é uma obra de difícil definição. Trata-se de
um mosaico de elementos que remontam a atmosfera europeia da década
de 1980, sobretudo de uma Inglaterra emblemática e efervescente. A
narrativa é permeada por temas como: o modelo político de Margaret
Tatcher; o contraste entre o conservadorismo social e o
desencadeamento de um processo de revolução sexual; a busca por
ascensão econômica; a cena gay londrina em seu ritmo frenético e
entorpecido; o erotismo cintilante; a sombra da AIDS, etc.
Este, que é o quinto romance da
carreira de Hollinghurst, é a espécie de obra digna de releituras.
Um livro excitante e vertiginoso.
A Moça de Copenhague (A Garota
Dinamarquesa) – David Ebershoff
A Moça de Copenhague, do
escritor americano David Ebershoff, ficou ainda mais conhecido devido
à sua adaptação para o cinema, em 2015. Baseado em fatos reais, o
livro reconstrói a história de Lily Elbe, apontada como a primeira
transexual da história a fazer cirurgia de redesignação sexual. Na
Europa dos anos 1920, vivendo até meia-idade como Einar Wegener,
para encontrar sua verdadeira identidade, Lily teve a sorte de contar
com o apoio não apenas de um médico pioneiro, mas também de uma
mulher brilhante, generosa e apaixonada, sua esposa Greta. Num
momento em que o debate a respeito das questões de gênero se faz
cada vez mais urgente, livros como este evidenciam-se como leitura de
valor inestimável.
Giovanni – James Baldwin
Giovanni é a história de um
caso de amor que contém todas as suas alegrias, angústias e crises
de esfriamento. Entretanto, este não é um drama comum. Retrata
brilhantemente a personalidade de um homem dividido entre uma paixão
homossexual intensa e trágica e um amor alegre e desprendido por uma
mulher. A partir do encontro e da atração entre um jovem italiano e
um americano, em Paris, o livro descreve a vida marginal que eles ali
buscavam, inseridos num turbilhão de perplexidade e de
desestruturação existencial que tentavam superar.
Escrito pelo afro-americano James
Baldwin, na década de 1950, bem antes dos
direitos dos homossexuais serem amplamente defendidos nos Estados
Unidos, Giovanni
é um marco de representatividade LGBT na história da literatura.